ELEIÇÃO

Entrevista com Professor Edmilson, candidato à prefeitura de Maringá pelo PSOL

A entrevista com Bovo é a nona da série de matérias com os prefeituráveis de Maringá

Entrevista com Professor Edmilson, candidato à prefeitura de Maringá pelo PSOL
Intuito da série de entrevistas é fazer com que o público conheça um pouco mais sobre os candidatos, suas opiniões e propostas. - Foto: Divulgação

Ciente da importância do papel eleitoral de cada cidadão, o Maringa.Com realizou uma série de entrevistas com os candidatos e candidatas à prefeitura de Maringá. As entrevistas consistem em um questionário com 13 perguntas abordando diferentes aspectos e problemáticas da cidade. Confira as respostas do candidato Professor Edmilson:

Nome de Urna: 
Professor Edmilson

Nome completo: 
Edmilson Aparecido da Silva

Data de nascimento: 
9 de novembro de 1969 

Filiação: 
PSOL

Cargos políticos exercidos: 
Presidente da SESDUEM (Seção Sindical dos Docentes da UEM-Andes) por duas gestões.

Qual é a vocação de Maringá (turismo, indústria, educação etc.) e qual será o foco para explorar e ampliar este perfil que a cidade possui?

Nenhuma cidade, inclusive Maringá, tem uma vocação a priori. Maringá é uma cidade de porte médio de um país subdesenvolvido e dependente, exportador de commodities, e isso determina a sua condição. O agronegócio intervém fortemente em nossa região, mais ainda do que em outras regiões do todo país, inibindo a possibilidade de desenvolvimento industrial e promovendo a economia com base em serviços. Embora Maringá tenha uma média salarial de 2,8 salários mínimos, sabemos que isso é uma média, puxada pelos salários mais altos. 

Os trabalhadores maringaenses, na sua maioria, não acompanham essa média, isso sem levar em conta que o salário mínimo está muito abaixo das necessidades reais do trabalhador. Como cidade majoritariamente prestadora de serviços,não temos bons empregos, não temos bons salários, não temos um mercado consumidor consistente e, portanto, com as crises do mercado, sempre teremos problemas de arrecadação. Por esse motivo, a prestação de serviços públicos de qualidade está muito aquém das necessidades da população. O fato de que somos um polo econômico e de queas condições das cidades vizinhas possam ser ainda mais graves não devem nos impedir de ver a nossa realidade.

Uma reclamação recorrente de quem mora na periferia é de que as ações governamentais ocorrem mais no centro. Se eleito, o que fará em prol da área periférica de Maringá?

Trabalharemos com a formação dos Conselhos Populares, que têm como objetivo a organização dos trabalhadores para conhecer o funcionamento das esferas administrativas e como se dão as tomadas de decisões, as licitações, os acordos, os conchavos etc. A Prefeitura municipal, como parte do Estado capitalista, é um grande balcão de negócios da burguesia. Assim, os interesses da burguesia se concentram no centro da cidade ou, no caso das periferias, na especulação imobiliária. 

Então, como o lucro de alguns poucos importa mais que a vida da grande maioria, as ações do Estado na periferia concentram-se,principalmente, no campo da repressão, especialmente à juventude, naquilo que se costuma chamar de “segurança pública”.Nós temos que fazer, portanto, uma escolha: continuamos a trabalhar com os interesses do capital que opera em nossa cidade ou fazemos a escolha por atuar com a força da organização dos trabalhadores? A segunda alternativa nos conduz à organização dos conselhos e ela não significa o abandono do centro, mas da criação de um centro que acolhe também o morador da periferia. 

Para isso, precisamos também de uma outra política de mobilidade, para garantir acesso barato do trabalhador ao centro, além de uma nova política de cultura que torne o centro mais interessante do que apenas ir ao shopping fazer compras. Da mesma forma, o caminho inverso deve ser percorrido. A periferia deve ter os atrativos e as condições para acolher o trabalhador do centro. Diminuir as diferenças entre centro e periferia, necessariamente, passa por combater a atual lógica administrativa

Qual será o principal projeto cultural e como será realizado?

Por meio dos Conselhos Populares, buscaremos colocar em prática um projeto cultural pensado pela classe trabalhadora do município, incentivar a criação de centros culturais que desenvolvam arte, música, literatura, debates políticos e que cheguem o mais próximo possível de toda comunidade.

Nos últimos cinco anos, a população em situação de rua dobrou em Maringá. De acordo com a última pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles, em 2019 o índice foi 27% superior ao ano de 2018 e muitos indivíduos estão nessa situação há menos de umano. Como o município pode auxiliar para que essas pessoas saiam da situação de rua?

As pessoas em situação de rua são um sintoma de tudo que falamos antes. O agronegócio expulsa a população das pequenas cidades da região em direção a Maringá. Aqui, não gerar bons empregos, não gera bons salários. Os trabalhadores que já estão instalados na cidade, aos poucos, perdem, junto com os que vêm de fora, a capacidade de viver em um mercado imobiliário extremamente agressivo. 

A prefeitura deve acolher e buscar amparar essa população, para que saiam da situação de rua, além de denunciar, dia após dia, que isso é um problema que acompanha o capitalismo dependente brasileiro. Isso possibilita que os trabalhadores se organizem para questionar e denunciar a orientação de classe dos gestores da miséria, que levam sempre em consideração os interesses do grande capital e abandonam toda população à sua sorte.

Após dois anos consecutivos em primeiro lugar como a melhor cidade do Brasil, Maringá caiu de posição e se encontra em segundo lugar no ranking “Desafios da Gestão Municipal (DGM)”, que analisa quatro setores fundamentais: saúde, educação, segurança e saneamento e sustentabilidade. Na sua opinião, quais medidas deveriam ser tomadas para Maringá recuperar a liderança? 

Basta olhar para a vida da classe trabalhadora maringaense para perceber que essa classificação é irrelevante, está descolada e não reflete a realidade da grande maioria da população. É verdade que nossa cidade possui alguns poucos bons indicadores, mas isso não significa que os trabalhadores e trabalhadoras de Maringá possuam a qualidade de vida digna que merecem. Em Maringá, assim como em todo o país, predomina a superexploração do trabalho, os baixos salários, o péssimo saneamento (visto nesses últimos dias, em que vários bairros ficaram sem água), o medo da violência, a falta de perspectivas para a juventude, a ausência de qualquer política cultural independente, a falta de emprego, o aumento dos moradores de rua, entre outros. 

Não se deve almejar uma posição melhor nesse ranking, que apenas relativiza nossa miséria e a falência do sistema apodrecido em que vivemos. Observar um ranking que versa sobre os desafios da gestão municipal sem lembrar que estamos em um país subdesenvolvido, como é o caso do Brasil, é querer apenas gerir a miséria. 

As medidas que defendemos são as de organizar os trabalhadores e trabalhadoras em seus locais de trabalho e bairros, possibilitando que os problemas reais de nosso município sejam apresentados não ao gestor e sim ao prefeito que lá foi colocado para apontar a falta de saídas dentro desse sistema e toda a suavização dos grandes problemas enfrentados pela classe trabalhadora, como esse ranking. Além disso, é nosso objetivo fazer oposição sistemática aos grupos políticos que há décadas dominam a cidade e dar suporte integral para todas as lutas da classe trabalhadora que ocorrem e ocorrerão em nossa cidade.

A pandemia do Coronavírus acarretou uma crise no mercado formal em Maringá. De acordo com dados do Ministério da Economia, cerca de 9,5 mil maringaenses solicitaram o seguro-desemprego entre abril e junho de 2020. Este foi o maior patamar trimestral da série histórica, desde o ano 2000. De que maneira a prefeitura poderia amenizar esses números e quais seriam as medidas adotadas?

Não há resposta fácil, precisamos entender o porquê desse desemprego. Em primeiro lugar, é importante lembrar que a crise que vivemos não começou com a pandemia, ela vem muito antes dela. É só lembrar a redução no PIB que o Brasil teve em 2019, o chamado “pibinho do Guedes”, dos dados relativos ao desemprego etc. De fato, se a crise pela qual passa o Brasil estoura em 2015, sem recuperação alguma até aqui, ela já vinha sido gestada há ainda mais tempo.

Cabe lembrar que o Brasil não é um país isolado e sozinho no mundo e o capitalismo vem em crise desde 2008, crise que se inicia nos Estados Unidos e que até aqui se arrasta. É importante termos isso em mente, porque, em um sistema global, nosso país ocupa uma posição subalterna e dependente. Daí que qualquer oscilação e queda dos lucros dos grandes conglomerados globais acarreta um tsunami no país, e é preciso que se diga, sem meias palavras: dentro da ordem capitalista, não há nenhuma alternativa para o país.

Agora, é importante termos em mente, e os dados que vocês trazem colocam a questão: esse tsunami, intensificado pela pandemia, não afeta todos da mesma maneira, muito pelo contrário, são os trabalhadores que pagam o pato. A fortuna dos bilionários do país – e no mundo – apenas aumentou no período de crise. Para eles, não tem tempo ruim, muito menos pandemia, pois ficam bem protegidos,enquanto a população se coloca em risco para poder ter o mínimo do seu ganha pão. Veja, esse dado do desemprego nos mostra também o seguinte: quase 65% dos requerimentos veio do comércio e dos serviços e 25%veio da indústria. 

O que isso significa? De um lado, que nossos pequenos empreendimentos quebram, levando muitos empregos consigo e pequenos empresários à falência, e essa fatia do mercado é abocanhada pelos grandes conglomerados que eu mencionei, cujos proprietários sequer são brasileiros. Do outro lado, a nossa indústria, raquítica e em desaparição, também sofre e seu mercado é absorvido pelas multinacionais. Ora, se as multinacionais vão muito bem, obrigado, esse também é o caso do grande latifúndio e dos grandes bancos! A coisa é tão escancarada que o latifúndio, em busca de grandes lucros, tem preferência pela exportação de seus produtos, pelos quais recebem em dólar, e o arroz, por exemplo, falta na mesa do povo brasileiro. 

Os bancos recebem trilhões de reais do Estado brasileiro, enquanto que o auxílio emergencial se reduz a míseros 600 reais, e agora, a apenas 300! Quem vive com 300 reais por mês? Pior, eles já estão preparando o discurso de que o Estado gasta muito com o povo e, assim que passar a pior fase da pandemia, se sequer esperarem tanto tempo, vem mais paulada no nosso lombo. Então, para responder à sua pergunta, tenho que apontar o seguinte: a crise que causa o desemprego é a crise capitalista, que bate ainda mais forte num país dependente como o Brasil. Mais do que isso,o desemprego não é só efeito fortuito, mas faz parte do projeto de quem detém o poder neste país. Para estes, aí não há crise, apenas oportunidade. 

O Brasil é como é porque suas classes dominantes lucram com a miséria da nossa população. Assim, qualquer candidato que queira inventar história de como, com “gestão” ou algo parecido, com “parcerias com o setor privado”, ele poderá criar tantos e quantos empregos e tirar Maringá da crise, estará mentindo para a população, fazendo o jogo de quem nos trouxe até aqui. Por isso, para nós, a solução em Maringá tem dois lados: por um lado, dentro das terríveis limitações impostas ao município e que se repetem em todos os municípios e Estados brasileiros que são sangrados para engordar os bolsos dos banqueiros, temos de direcionar nossas forças possíveis a criar empregos que, ao mesmo tempo, estejam direcionados à satisfação de necessidades populares básicas e urgentes, como moradia, transporte e saneamento básico. 

Assim, também podemos evoluir no problema da segurança, que não se resolve com gastança maior em violência contra a população em geral. Por outro lado,as limitações das soluções dentro do sistema são grandes demais para oferecer soluções a longo prazo e, mesmo a curto prazo, um prefeito não pode enfrentar sozinho os interesses em torno do orçamento público. 

Desse modo, em Maringá, como em todo o Brasil, precisamos organizar a classe trabalhadora, por exemplo, em torno de conselhos populares, que façam a mediação com a prefeitura, trazendo as necessidades e discutindo as soluções em conjunto com o poder público, mas, mais do que isso, exercendo também o poder público, sendo a base de sustentação de um projeto popular em Maringá. Somente com os trabalhadores organizados em torno de um projeto político próprio, que se generalize nacionalmente, contra os interesses de quem nos trouxe até aqui, é possível enfrentarmos a crise.

O Plano de Mobilidade de Maringá, o PlanMob, tem como principal objetivo estabelecer um trânsito menos poluente, com maior qualidade no transporte coletivo e viabilidade para o uso de bicicletas como meio de transporte. Considerando a realidade maringaense, quais destes fatores seria o principal obstáculo a ser superado para a implementação do PlanMob de modo efetivo?

Em primeiro lugar, é importante lembrar que teve início, uma greve dos trabalhadores do transporte urbano de Maringá. Nosso primeiro compromisso é com os trabalhadores e trabalhadoras e, por isso, declaramos todo nosso apoio aos trabalhadores auto-organizados e denunciamos que a diretoria da TCCC, empresa que por décadas tem sugado os recursos públicos do município e explorado seus motoristas, recusa-se a sequer pagar reposição salarial destes importantes trabalhadores.

Além disso, é necessário ampliar a discussão com toda a população e reconhecer que não existe uma única solução, mas que as alternativas devem ser levantadas e debatidas pela nossa comunidade. As decisões sobre mobilidade, bem como sobre todos os outros temas,não podem ficar restritas aos interesses de meia dúzia de vereadores e empresários, nem tampouco limitadas a algumas iniciativas que tenham muita visibilidade, que deem uma aparência “sustentável” para a cidade, mas que não apontem para a resolução do problema. 

O transporte coletivo de Maringá está nas mãos de uma grande empresa capitalista, que atua oligopolicamente no Brasil e exerce um inaceitável monopólio em Maringá. Este é, sem dúvida, um ponto a ser debatido, se não na direção da municipalização do serviço, ao menos nas formas de exercer controle e pressão sobre esse monopólio.

Na sua opinião, qual é o principal problema a ser resolvido em Maringá? E como pretende resolvê-lo?

O principal problema de Maringá é o mesmo problema que assola todos os municípios de nosso país, a nossa condição enquanto uma economia capitalista dependente que promove, em todas as suas esferas, a desigualdade social. Os municípios de um país dependente economicamente e subdesenvolvido como o Brasil enfrentam e continuarão enfrentando uma série de contradições que impedem o desenvolvimento das cidades, dos estados e da nação. Esse problema demanda uma solução nacional, fora da ordem capitalista e, portanto, muito além do alcance de uma prefeitura. 

A esta, em uma perspectiva socialista, compete organizar os trabalhadores, denunciar todas as contradições e problemas do sistema, denunciar a intervenção dos grandes capitalistas e os gestores que beneficiam estes. Não podemos continuar apostando em sermos apenas exportadores de produtos agrícolas e importadores de todo tipo de tecnologia, uma vez que muitos governos pouco investem em pesquisas e isso nos faz cada vez mais dependentes. Devemos nos preocupar com o empobrecimento cada vez maior de nossa população, como desemprego, com a fome e com todos os demais sintomas do sistema que tem como base a exploração do homem pelo homem. Não há saídas dentro do sistema capitalista,urge a necessidade de uma radical mudança social.

CANDIDATOS – O intuito da série de entrevistas é fazer com que o público conheça um pouco mais sobre os candidatos, suas opiniões e propostas. Confira a data de postagem de cada matéria. A ordem estabelecida é alfabética:

  • Akemi Nishimori - PL (5 de outubro)
  • Anníbal Bianchini - PTC (6 de outubro)
  • Audilene Rocha - Progressistas (7 de outubro)
  • Carlos Mariucci - PT (sem respostas)
  • Dr. Batista - DEM (8 de outubro)
  • Eliseu Fortes - Patriota (9 de outubro)
  • Evandro Oliveira - PSDB (13 de outubro)
  • Homero Marchese - Pros (14 de outubro)
  • José Luiz Bovo - Podemos (15 de outubro)
  • Professor Edmilson Aparecido da Silva - PSOL (16 de outubro)
  • Rogério Calazans - Avante (17 de outubro)
  • Ulisses Maia - PSD (20 de outubro)
  • Valdir Pignata - Cidadania (21 de outubro)
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